“Musa fitness deixa carreira de modelo e fica milionária com conteúdo adulto”
Eu estava assistindo à Globo News hoje de manhã (24/02/2024), quando no rodapé apareceu a seguinte manchete, rodando entre uma dezena: “Musa fitness deixa carreira de modelo e fica milionária com conteúdo adulto”. As outras eram sobre dengue, enchentes, cuidado com idosos, pesquisas universitárias, violência, guerras… As notícias do rodapé em geral pareciam relevantes. E eu pergunto: qual é a relevância social de saber que uma mulher qualquer (nem o nome dela é noticiado) entrou para a pornografia?
E eu respondo também: nenhuma.
Não há relevância, isso é propaganda disfarçada de notícia. Não é um fenômeno raro, vira e mexe as grandes empresas de jornalismo veiculam propagandas comerciais disfarçadas. Especificamente no caso da pornografia, é a primeira vez que eu me deparei com esse tipo de propaganda na Globo News, um canal que se propõe sério e se vende como a nata do jornalismo das empresas Globo. Contudo, outros veículos de comunicação vivem fazendo isso, inclusive dando o nome da plataforma para a qual fazem propaganda. Vejo “notícias” assim constantemente no Uol, por exemplo.
Essas propagandas vendem o sonho de dinheiro fácil para mulheres, mas não contam a realidade. Mulheres na pornografia não ficam ricas. Mulheres na pornografia adoecem física e emocionalmente com muito mais frequência do que as que não estão. A presença de mulheres na pornografia causa mal social a todas as mulheres, porque aumenta a objetificação feminina na sociedade.
Uma das notícias de rodapé da Globo News que se seguia a essa era sobre uma mulher que foi estuprada dentro de uma delegacia. Uma das causas dos estupros é a ideia de que mulheres são objetos para o prazer masculino; de que estamos disponíveis quando eles quiserem e de que é para isso que servimos. A pornografia reforça essa ideia. A cultura do estupro precisa da pornografia. Não tem nada de empoderador para as mulheres na pornografia, ela só dá mais poder aos homens.
Se a Globo News estivesse preocupada em noticiar algo de relevância social sobre esse assunto, ela pesquisaria por que as mulheres que acabam na pornografia adoecem tanto; ou por que a auto-objetificação feminina tem aumentado com as redes sociais e as plataformas de venda de conteúdo adulto e qual é o impacto disso para mulheres e meninas; ou quais as consequências para crianças que crescem vendo esse tipo de notícia. Tem muitas linhas importantes.
Sendo “noticiado” no meio de temas relevantes, aumenta o senso de que aquilo é algo significativo, mas o que o canal fez foi propaganda prejudicial às mulheres e meninas.